CHEGAR AO MOINHO DA RIBEIRA
Linhares da Beira, Serra da Estrela
Quando se parte da aldeia, o vale parece mais suave do que aquilo que depois se apresenta. Tudo é verde. Uma brisa fresca bate na cara e o ar que se respira é puro, tal como a água que corre pelos regatos, vinda da montanha, e que se junta na Ribeira. Linhares, aldeia histórica, é ponto de partida para vários percursos pedestres. Este é apenas um deles.
O percurso ao Moinho da Ribeira é circular. Começa e termina na aldeia. O ponto de partida é junto à Escola Primária. Desce-se pela Calçada Romana, até à Ribeira de Linhares. À medida que o grupo se afasta da povoação a estrada entra pelas encostas cultivadas, onde a vinha e a oliveira começam a marcar presença. Aqui e além surgem também manchas de castanheiro e carvalho, árvores autóctones da região. A paisagem que envolve o caminho é única e dela fica-nos uma imagem: o verde. Mas mesmo junto à calçada, as amoras silvestres revelam-se verdadeiros pitéus e não há quem não as queira provar.
A encosta espraia-se nos lameiros (terrenos muito férteis e inundados que servem de pasto às ovelhas) do vale da ribeira. As suas margens acolhem algumas quintas, quase todas abandonadas, que hoje apenas servem para guardar os poucos rebanhos que ainda sobrevivem à desertificação da região.
Depois de caminhar cerca de um quilómetro chega-se à ponte que atravessa a Ribeira e divide os concelhos de Celorico da Beira e Gouveia. Do lado de lá fica Figueiró da Serra e um dos pontos de água potável que se encontram no caminho. É daqui que, depois de virar à esquerda, se segue para o moinho de água. Seguindo a levada de água (canal que conduz a água pelos vários campos com o objectivo de os regar) chega-se ao moinho da "Maria Moleira". Com 70 anos esta mulher trabalha aqui desde os 11 e por aqui "vai acabar os seus dias".Maria mostra as suas mós, explica como funciona o rodízio (peça em madeira que é movida pela água e que ao girar faz trabalhar as mós de pedra que esmagam o cereal) e convida a um "copo" na sua casa, na quinta, mesmo ali ao lado. À medida que se sobe até à quinta avista-se, do lado esquerdo, o castelo de Linhares e o seu casario.
Chega-se à quinta da senhora Maria e é quase obrigatório beber o tal "copo" que pode ser de vinho, produzido por ela própria, ou de água muito fresca que corre com abundância numa bica, perto do forno. Ali vive sozinha e pela força das circunstâncias tornou-se auto-suficiente. Vive sem água canalizada, sem electricidade, sem telefone ou qualquer outra ligação à civilização. Nesta altura fala com pouca gente e vai pouco a Linhares "porque não tem taleigas (sacos) de farinha para entregar".
Depois do descanso nesta velha quinta o caminho está praticamente no final. Atravessa-se uma mata de pinheiros, castanheiros e carvalhos numa área de Linhares que todos conhecem por Tropos e, mal acaba a subida, a estrada de terra batida leva os caminheiros até à Rua do Campo que pega com a Rua Direita. Para-se no Largo da Igreja e aí o cansaço pede uma bebida bem fresquinha que se pode beber num dos cafés que ali funcionam. O passeio não está completo sem a prova do queijo da serra e do presunto.
Na memória ficaram certamente os bons momentos que este percurso, de cerca de uma hora e meia, ofereceu. E claro que um tão autêntico contacto com a natureza e com as pessoas da região deixa saudades. Porque não voltar?
Nota Importante: a todos os participantes aconselha-se o uso de vestuário e calçado confortável (botas de montanha ou sapatilhas de trecking) e uso de boné. Apesar de haver pontos de água potável ao longo do percurso poderá ser importante levar um cantil com água. A máquina fotográfica é também, indispensável para registar as maravilhas naturais que se nos apresentam pelo caminho.
Este percurso é muito fácil e foi concebido para pessoas com um nível de preparação física muito baixo. O objectivo deste percurso não é fazer uma maratona, mas sim aproveitar cada metro de terreno e gozar cada centímetro de paisagem.
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